Sem bandeiras, sem fogos, sem instrumentos musicais. Não pode tirar a
camisa nem assistir ao espetáculo de pé… Sejam bem-vindos ao mais novo
teatro inaugurado na cidade do Rio de Janeiro: o “Teatro Jornalista
Mário Filho”, mais popularmente conhecido como “Teatro Maracanã”.
Empreendida por Delta, Odebrecht e Andrade Gutierrez a um custo de mais 1
bilhão de reais aos cofres públicos, a obra teve início em 2010. No
local, funcionava um antigo estádio, demolido para a construção do novo
teatro, com capacidade para 78 mil pessoas. Talvez o maior teatro do
mundo.
Pois é, amigos. É com essas palavras que deveriam ser anunciadas as
medidas “anti-violência” do Consórcio Maracanã S/A para as partidas do
Campeonato Brasileiro. Na verdade, o efeito disso tudo foi o contrário: o
Maracanã foi duramente violentado. Não é mais o mesmo. Durante os jogos a que assisti na nova arena, México x Itália e Espanha x
Taiti, pela Copa das Confederações, guardava a esperança de que a alma do
velho Maraca tivesse sobrevivido, de que, com os jogos dos clubes, não
teríamos uma ‘plateia’ no estádio. Mas eis que o sr. Eike Batista e seus
muquepes trataram destruir essa esperança.
Em São Paulo, já temos uma experiência do tipo. Lá, também já são
proibidos bandeiras, fogos e instrumentos musicais nos estádios. O
resultado, todos já sabem. No caso do Rio, porém, impressiona a
proibição em relação aos sem-camisa e aos que ficam em pé. Afinal, há
uma ditadura também no esporte? Será que isso tudo não faz parte de um
processo ferrenho de elitização do público que aprecia o futebol? Isso
fica ainda mais escancarado quando vemos os preços prévios que o
consórcio impôs nos melhores setores do estádio para jogos do
Fluminense: nada mais, nada menos que R$ 100,00 e R$ 220,00.
Outro crime é a instalação de grades para a divisão das torcidas. Ou
esses caras não pensam ou têm preguiça de pensar. Já que o receio é com
as torcidas organizadas, por que não separá-las por um cordão humano,
como será feito neste domingo (14) no jogo entre Flamengo e Vasco no Mané
Garrincha? Não impedindo a mistura das torcidas nos setores inferiores,
como ocorria no antigo estádio: um diferencial do então Maracanã em
relação aos demais estádios e motivo de orgulho para os torcedores
cariocas.
Por que não fizeram como no Mineirão, em que foram mantidos os dois
lances de arquibancadas? O impacto seria bem menor e o torcedor não
sentiria tanto a falta da magia do Maraca. Sem contar que o custo seria
provavelmente bem menor que os absurdos 1,049 bilhão de reais, pois o
estádio já havia passado por duas reformas.
Toda essa modernização, apesar de necessária, da forma como foi feita
teve o seu preço. Estamos na era das arenas, em que a torcida deve ter
comportamento de plateia, com seus lugares marcados. Esta é a dura
realidade. E a verdade é que essa total descaracterização do estádio e
de seu entorno é o só o começo de uma bola de neve.
A música de Neguinho da Beija-Flor parece já não fazer mais sentido. Sérgio Cabral não vendeu o Maracanã. Ele simplesmente o demoliu. A um
alto preço.
Maracanã: *1950 + 2010 |
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